domingo, 17 de abril de 2011

A água do chá

Deixei a água do chá para esfriar em cima da pia de mármore, ao lado do vasinho sem flor daquela cozinha branca de chão frio. Deixei porque me disseram que eu deveria ser menos intensa, mais paciente, quase imploraram para que eu soubesse esperar. Eu tentei. A água está lá há horas e há horas não a quero mais. Esfriou. Definitivamente não sei esperar, paciência é a arte que eu não aprendi, porque eu realmente não quis. Prefiro tudo à flor da pele. Agora estou parada, como uma estátua, olhando a água e os minutos correm, os minutos correm. Tenho pernas curtas, tenho braços curtos. Queria agarrá-los enquanto correm. Agorinha mesmo eu corri alguns anos pra trás e sentei naquela cadeira de madeira meio bamba na varanda de casa, perto da fumaça do cigarro que você soltava ao lado do pé de limão. Não lembro ao certo em qual estação estávamos, mas lembro que uma água também esquentava naquela cozinha nada parecida com a minha. Não tinha mármores e nem vasos. Você me pedia paciência, mas os seus pés não paravam e os cigarros queimavam mais do que corriam os minutos. Você me pedia o que não tinha. Corro meus olhos de volta para a água fria dessa cozinha e não consigo ficar nenhum minuto. Vejo-me entre aqueles milhares de pés rumo à porta de saída, todos tropeçando em seus próprios desejos, mas eles não voltavam e eles não vão voltar porque às vezes é difícil desviar de tudo. É besteira desviar de tudo. Eu particularmente gosto que as ondas quebrem no meu peito, assim eu sinto o mar. Eu aceito que as coisas quebrem no meu peito, porque assim eu as sinto. Às vezes demais. Mas como as ondas e como o mar e como as coisas, tudo sempre vem e vai e beira o ridículo tentar impedir que isso aconteça. A gente simplesmente não precisa seguir essa ordem. Mas é importante manter o movimento, mesmo que ele esteja concentrado na pausa. Volto para a água. Volto a correr, agora por uma estrada de chão vazia, com quinhentos caminhos diferentes para seguir e simplesmente eu não preciso escolher nenhum, porque eu quero passar por todos. Mais uma vez minha paciência vai ter que esperar e assim como os minutos eu posso correr. Correr na velocidade das minhas escolhas.

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