sábado, 21 de maio de 2011

O mundo das regras

A gente sempre adianta a velhice para que nossos braços de desculpas possam confortavelmente se apoiar e para que nossas pernas de justificativas possam ser esticadas para sempre na calmaria de uma vida em trilhos. Vida traçada com linhas emprestadas, de nós feitos que jamais podem ser desfeitos para não ter que fazer de novo. Porque sempre é tarde. Nunca é tempo. Tudo já foi ou então será. Pra ser precisa de planejamento e por isso nunca é. Porque tudo isso já existe desde muito antes de você vir a este mundo mocinha. O mundo veio quando? O mundo nunca veio. Tudo sempre tem um início. Nunca tem. Ah bom, o nunca veio quando? O nunca, nunca veio. O nunca não existe? Existe. Então tem um início. Fora. E foi assim que me chutaram do mundo das regras, mas eu fui proibida de sair pela janela. Não entendi. Disseram que eu não precisava entender. Mas eu quis, então me proibiram. Ué, eu não...

sábado, 7 de maio de 2011

Não pertence a nada

Ele tem olhos nos pés. Ele vive sem uma parte do corpo, seus olhos pertencem aos livros, às linhas, às letras. O resto de seu corpo pertence à música e deve ser por isso que seus pés nunca alcançam o chão. E deve ser por isso que meus olhos nunca o veem por inteiro. Pensando bem ele vive sem o corpo todo. Talvez ele carregue o nada, um nada aparentemente pesado, pois seu voo às vezes é lento e só por isso posso acompanhá-lo. Eu não sei como cabe tanto mistério em pequenos minutos de encontro. Mas ele sempre carrega todo esse mistério que eu não sei de onde vem que eu não sei onde é que cabe. Ele acha que o silêncio é suficiente para esconder todas as coisas que gostaria de dizer, ingenuidade, ele deve contar essa mentira de olhos fechados pra acreditar porque o silêncio infelizmente não pertence aos olhos. A gente felizmente não pertence a nada. Nem aos pés, nem aos livros, nem ao corpo, nem ao chão. Eu sei disso, não sei se ele sabe, mas é assim que eu o vejo. Como uma parte independente que não pertence ao mundo que não pertence a mim que não pertence a ele que não pertence a nada.