quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Os dedos das mãos

Se o silêncio da noite pairasse no dia ensurdeceria os que vivem de som. É o que eu penso enquanto luto para dormir. Penso baixinho que ainda há tempo e sussurro que só mais 10 minutos, preciso dormir, só mais 10 minutos. Pobre corpo que precisa descansar enquanto almas se soltam e imploram pra acordar outras almas e voar e viver, sem tic e tac, sem trânsitos e despertadores, sem fome e controladores de apetite e controladores de desejos e balanças sociais e estratégias repetitivas, pré-conceitos medievais e mensagens ultrapassadas. Pobres almas. Deixem-nas em paz. Tão grandes e lindas e fortes, presas a fraqueza de uma rotina pré-estabelecida de pseudo-liberdade, de pseudo-modernidade. Vamos, silêncio. Deve haver um grito em algum lugar. Um grito mais forte que grunhidos. Diante de um mundo surdo, o silêncio dos gestos talvez seja cruel. Almas, pobres almas anuladas pela automatização. Almas tão grandes que tem como limite a ponta dos dedos. A tragédia e a vitória não existiriam sem a ponta dos dedos. Revolte-se Alma. Controle-nos alma. Mantenha-se alma. Prenda-nos alma. Renda-nos alma na palma da respiração. No limite do contato. Não se deixe controlar alma. Controle-nos os dedos das mãos.

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