domingo, 6 de junho de 2010
Há sempre um rombo
Coleciono amores descartáveis, porque são práticos, apesar da praticidade ser incompleta. Coleciono amores provisórios, pois não existem regras, nem contratos, não há multa de cancelamento, não presto contas e não tenho contas prestadas. Coleciono razões desconexas que se desencontram em suas origens e encontram-se rasuradas no final. Coleciono sentimentos palpáveis, objetos inexistentes. Coleciono tudo que possa ser meu por algum tempo, pouco tempo de preferência. Preferência ou medo, desistência. Tenho raízes flutuantes. Agarro-me rapidamente a qualquer pedacinho de terra que avisto, mas depois de poucos segundos já desgarro, não sei por quê. Talvez porque eu ainda não tenha encontrado terra suficiente para suportar minhas raízes. Elas são (de) limitadas demais. Pequenas, superficiais. São só terra. Talvez eu ainda não tenha encontrado terras que possam ser deslocadas, elas sempre permanecem, eu sempre vou, há sempre um rombo, uma placa se rompendo, por isso prefiro as descartáveis, provisórias para não dar tempo. Para não romper. Sigo flutuando, agarrando e desgarrando até que chega o ponto em que minhas raízes perdem a força, perdem as garras, deixam de ser raízes, deixam de ser. Só flutuam.
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