quarta-feira, 21 de abril de 2010
As sandálias de plástico e o rock and roll
Sandálias de plástico dão chulé. A chuva me deixa introspectiva, depressiva, com vontade fazer música sem conseguir, com vontade escrever sem conseguir, com vontade fazer algo, qualquer coisa, sem conseguir. Às vezes tudo o que você precisa está perto demais para poder ser visto. A distância é necessária, mas me irrita. Não existe música pra se ouvir na chuva, porque todas, até as mais pulantes, dançantes, alegres, são tristes. Não existe programa pra assistir na chuva, porque todos são fúteis. Não existe pessoa pra conversar na chuva, porque todas são chatas. Não da pra ficar sozinha na chuva, porque é melancólico. Mas a questão é que sandálias de plástico dão chulé. Mas a gente usa. Nenhuma droga me droga, a minha consciência é muita mais forte que elas e eu não consigo me livrar da minha consciência. Às vezes eu só queria ser o elenco pobre de novela. Dançar em um churrasco com pagode no domingo, beber uma cerveja no bar do Zé, andar feliz, bonita e sorrindo dentro do ônibus, vestir o macacão e ir para firma. Mas eu sou o elenco pobre fora da novela. Domingo, segunda, terça, quarta, quinta e sexta eu como miojo alterando só o sabor de 4 queijos, feijãozinho, picanha, tomate e galinha. Mas sem pagode, porque eu O-D-E-I-O pagode e a felicidade do pagode e a batidinha do pagode e as rimas de pagode e todas as dançinhas do pagode. Eu não posso ir pro bar do Zé beber cerveja porque eu O-D-E-I-O cerveja e não conheço nenhum Zé que tenha bar. Eu ando de ônibus, mas nada de feliz, bonita e sorrindo. Eu ando suada me equilibrando e minha expressão fica bem distante do sorriso. Eu não vou pra firma, mas pra algum lugar eu tenho que ir né. Eu escrevo toda essa inútil baboseira só pra dizer sutilmente que esqueceram de adicionar a palavra satisfação no meu sistema. Que não é a distância, o pagode, o miojo nem o chulé das sandálias de plástico, é um buraco no meio da minha barriga, bem pra cima do umbigo um pouquinho pro lado do peito. É um buraco que insiste em ficar vazio e escuro, eu não posso enxergar lá dentro. E tem tantos objetos perdidos que eu queria encontrar. Mas ele fica lá, gigante, escuro e vazio. E eu fico aqui, com a chuva, as sandálias de plástico e o rock and roll.
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