domingo, 11 de abril de 2010
A merda do objetivo
Hoje eu passei o dia inteiro aqui. Assim. Na mesma posição que terminei o dia anterior, pensando nas mesmas coisas de todos os outros dias. A gente vai morrer sem ter feito nada. A gente vai sonhar para depois esquecer. A gente vai dançar como se ninguém estivesse vendo, olhando para todos os lados só para ter certeza. A gente vai provar sem realmente ter experimentado e espirrar sem ser involuntariamente forçado. A gente vai morrer sem ter feito nada. Na mesma posição do dia anterior. Ontem, eu vi pessoas sozinhas na mesa do bar com olhares perdidos e uma lata de coca-cola na mão. Outras pessoas em pé dançando loucamente músicas que elas nem conheciam e alguns casais com cara de tédio, muito tédio. Os vestidinhos, as meias e as bolsinhas retrô. Os sapatos ridículos e os óculos gigantes. Porque a moda agora é ser brega. Mas ser brega de propósito. Se você é brega sem querer, passa a ser o brega fora do brega fashion. Esse tipo de coisa super relevante que salva nossa vida quando a gente se encontra na mesma posição do dia anterior. Todas as pessoas com um único objetivo fingindo desconhecer. Todas as roupas e as músicas e os sapatos e os óculos e os bregas com as mesmas merdas de objetivos, fingindo não saber qual é a merda do objetivo. E os olhares perdidos tentavam fugir da luz procurando na escuridão o que na verdade não pode ser visto. Os casais do tédio tentando ver no outro o que não existe mais. As meninas brega fashion tentando viver o que já passou. Os meninos brega fashion tentando ser o que nunca serão e todos fodendo a merda do mesmo objetivo. Afogando-o com álcool, sufocando com a fumaça, ensurdecendo com a música, com a dança, com o vômito, com o vazio. O vazio é o grande responsável por encher esses lugares. O vazio, a incerteza, a falta de direção, a falta de lógica nas coisas. A quantidade de perguntas que temos para a quantidade de respostas que nos dão. A quantidade de tempo que nos resta para a quantidade de tempo que achamos ter. O sabor que tiraram das coisas, a beleza que photoshoparam, as coisas que inventam para gente acreditar e procurar e se sentir um bosta quando não conseguir sem saber que a gente não consegue, não encontra e não acredita, porque simplesmente não existe. Ontem eu vi pessoas sozinhas com olhares perdidos na mesa do bar, outras dançando loucamente e casais do tédio. Ontem, antes de eu estar aqui na posição que estou hoje, eu estava sentada, sozinha, com o olhar perdido e uma lata de coca-cola na mão fingindo desconhecer a merda objetivo.
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