terça-feira, 4 de maio de 2010
Perpendicular
A vida é tão incoerente, porque a coerência não é vida, nunca poderia ser. Tem um bip que apita, apita, apita e aponta, aponta, aponta aqui dentro de mim e eu não sei por que apita para onde apita, se eu corro, se eu procuro, se eu paro, grito incêndio ou espero. Então eu fico rodando no mesmo lugar embaixo do céu azul que quase me cega pelo cansaço de olhar. E o bip prossegue como aqueles despertadores chatos que insistem em me acordar às 7 horas da manhã, quando eu quero matar às 7 horas da manhã. Destruir todos os rastros de horas até as 10. Porque o dia tem que começar às 10. O sol me esfria, a lua queima e eu sinto uma alegria repentina que vem do nada e logo já volta pro nada, mas ela passou por aqui, bem longe das 7 da manhã, mas ela passou por aqui. E o bip toca, ou o despertador, não sei ao certo e eu acordo e sigo no sol que esfria e durmo com a lua que queima e espero a alegria inesperada, mas que esperada que às vezes vem, vem do nada e deve voltar para um lugar parecido. Hoje eu quero gritar por silêncio, o barulho da minha geladeira impede que eu escute os meus próprios pensamentos, mas isso não importa porque hoje ela veio, e lá vai ela, lá vai ela de novo, já está voltando. Mas eu não vou tentar seguir, vou fingir que estou cega pelo cansaço de olhar e esperar que algum dia nossas linhas se reencontrem em uma perpendicular qualquer.
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