domingo, 21 de fevereiro de 2010

O cuspe na sua cara

Eu tenho vontade cuspir na sua cara. Tenho vontade cuspir na sua cara e desmentir todas essas suas verdades fingidas. De destruir o seu portão elétrico, seu carro blindado, sua TV bloqueada, o seu cérebro automático. Eu preciso cuspir na sua cara e dizer que sua vida é uma mentira e não eu. Eu quero quebrar os dentes da felicidade projetada e acabar com os cumprimentos efusivos às 7 horas da manhã. Eu quero materializar o preconceito e despejar na comida de todo mundo. Eu quero correr pelada na rodovia gritando que NÓS SOMOS UMA VERGONHA, somos uma vergonha e nos escondemos disso. Eu quero quebrar todos os saltos agulha, jogar na privada as roupas de marca, as bolsas da estação, os estojos de maquiagem e secadores só pra ver se existe algo vivo embaixo disso tudo. Eu quero que você engula sua hipocrisia para sentir o gosto que essa porra tem. Eu quero que você sinta a chuva e não só se contente que ela existe. Eu quero que você jogue seu poodle pela janela e conheça um vira-lata. Eu quero que você gaste menos com a sua unha e mais com um ser humano. Eu quero que você saiba que a escravidão não acabou que você não é livre e que gente morre todo dia por falta daquilo que jogamos no lixo. Eu quero que você assuma a imperfeição. Eu quero que você entenda que o planeta vai explodir e todo mundo vai junto com ou sem os produtos da Victoria Secrets. Eu quero dizer que a política é você, sou eu e o João da esquina e todos temos muito a ver com isso. Você precisa saber que a liberdade de expressão é controlada, não por nós, mas pela merda que colocaram na nossa cabeça. Você precisa saber que a escola, a igreja e a família, não te faz ser melhor e sim igual. Desculpa, mas eu tenho que dizer, o seu madruga morreu, o John Lennon, o Che Guevara, o Ghandi e a geração 68 também, mas nós estamos aqui e podemos fazer a diferença. Eu sei que você se sente vazia, perdida e sem esperança, mas eu preciso dizer que todos nós nos sentimos assim, porque somos de verdade, porém estamos nos transformando em robôs e logo não poderemos mais sentir. O final feliz não existe e nem poderia. Sim, aquilo é photoshop. O cinema existe no cinema, a novela existe na novela e você precisa existir aqui. Nem todos os sonhos são realizados, mas é preciso sonhar. Nem toda merda é mostrada, mas a gente tem que tentar ver. Eu sei, o mundo é frio, mas então provoque o choque. Deixe pensarem que você é louca, a pior loucura é forçar a normalidade. Sejamos loucos, é melhor do que não sermos nada. Se você não pode ser tudo, seja humana pelo menos. Tem muita coisa que eu ainda queria te dizer, mas isso por enquanto basta. Eu quis te dizer tudo isso e cuspir na sua cara porque meu bem, eu estou perdendo as esperanças e preciso que alguém cuspa isso de volta para mim.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Coragem

Cor-agem. Esqueça a cor, lembre-se apenas de que agem. Os músculos agem. Agir é passar do ponto de partida, independente da partida do ponto. O impossível só é sabido quando ouvido. Ensurdeça-se. Aja. Assim como agem os agentes no objetivo de destruir a gente do que somos e fomos. Seremos. Seremos diferentes daquilo que sonhamos ou sonharemos aquilo que diferente somos? Sonhe. Sem fórmulas. Desconecte e conecte só pelo prazer do ir e vir. Vá e volte. Não fique. Digo, não fique sempre. O sempre cega, é preciso enxergar, enxergar para mudar. Para isso não é necessário ver e sim ser. Seja. Viva. Experimente o diferente, o igual, o de sempre, o de nunca. Experimente, não ignore. Chore. Chore quando der, se quiser, onde for. Sorria ou então cale-se. Mas cale-se e evolua. Destrua os padrões. Reconstrua. Desmonte e monte. Acenda e apague. Descubra. Desvende. Tente. Sinta a falta. Seja a falta. Encontre a coragem ou aja. Tudo é válido, mas algumas coisas perecem. Às vezes merecem. Portanto, meu bem, feche os olhos e esqueça o que eu digo.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

O amor

O amor é uma via de mão dupla sem a mínima sinalização. Alguns arriscam as regras, outros acreditam desobedecê-las mesmo sem saber se elas existem. O amor é uma via de mão dupla e nem todos ainda estão aptos a utilizá-la. Uns por medo, outros por negligência. O amor é uma via de mão dupla e quase sempre só se vai para um lado. Às vezes existem mais veículos do que os permitidos e outras vezes ele é abandonado, porque as pessoas não sabem que é uma via de mão dupla.

Outras maneiras

Não importa para onde eu fuja, o problema é que sempre me levo junto. Às vezes é preciso trancar o ar só para sentir falta e assim enxergar no simples o essencial. Sou cercada de uma raça doente. Raça contaminada pela caretice, pela autocensura, autodestruição. Tudo é difícil demais, longe demais, tudo é demais sendo menos. Eles são rasos em ideias e profundos em nada. O medo trava, mas não deveria. Ele é um universo que não se deve guiar. Eu não consigo pertencer. Não posso ser de ninguém, sendo que nem minha sou. Apenas dou sem esperar resposta, porque quando recebo, não respondo da maneira que de fato devo. Talvez encontrar o errado seja certo. Mas encontramos muitos certos por aí. Quando chega o errado não estamos mais preparados para viver ignorados pelo comum. Aqui, a maioria tenta se igualar, eu só busco manter as diferenças. Aqui, a maioria busca se anular, eu só quero continuar respirando. Respirando os meus desejos. Os meus e os dos outros, porque assim posso lembrá-los quando eles próprios se esquecerem. Com o tempo nos esquecemos quem somos e passamos a ser outros. E eu preciso manter a memória mesmo sabendo que nela não posso confiar, já que está sempre sendo renovada e toda renovação requer esquecimentos. Lamento. Lamento mas não posso seguir essa regra. Tenho arquivos guardados no meu eu subentendido e deles não vou, mesmo que queira, me livrar. Alguns estão na pele, outros nem eu mesma tenho acesso. Mas o fato é que não vou me livrar. Não de mim. Existem outras maneiras, mais fáceis e menos dolorosas de se perder a sanidade.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Fazer parte e ser a parte

Eu não sou o que eu sinto. Apenas sinto fragmentos e impactos do que sou. Odeio a hipocrisia pós-moderna do fingir ser preocupado sendo um bosta. Ou você é ou não é. Se importa ou sai cagando e andando. O serei fica longe demais para ser afirmado em tempos em que mal conseguimos dizer sou. Ou você fica puta em ser tratada como inferior por ser mulher, burra por ser mecânica, lésbica por ser jogadora, fútil por ser estilista ou você acha normal um homem pagar suas contas em troca de um conforto qualquer. Não tem como ser os dois. É como ser vegetariana e comer hambúrguer. É como considerar o mundo inteiro como irmão e achar que um mendigo é bastardo. Quente ou frio, forte ou descafeinado, seja algo. A apatia me da ânsia. Sardinha também, mas a apatia não faz digestão ela entra e entala na garganta. Impede o grito. Cega o mundo. Hoje as coisas só incomodam quando estão próximas demais. Nada é nítido à distância, nada parece real. A pobreza só existe quando chega até você. O mundo é uma barbárie quando te tiram algo que vai faltar. Daí surgem as passeatas, a indignação, o sofrimento de uma família coberto pela Globo. Mas logo depois vem o esquecimento, e volta a indignação, e depois o esquecimento e a indignação, e a queda da bolsa de valores e o esquecimento, e a inflação, e o esquecimento, e a reeleição e o esquecimento, aaaaah, daí vêm a ânsia. E não há nada que ninguém possa dizer, porque ninguém mais escuta. Nada penetra a maldita bolha. Às vezes eu tenho vontade de sair furando todas como uma louca igual aquelas tias encalhadas que furam as bexigas com o palitinho de dente em festas de criança tentando representar toda a sua carência com o barulho do estouro. É o que dá vontade fazer. Porque como ninguém mais escuta, então não teria problema se todo mundo ficasse surdo de vez. Até onde vai tudo isso? As pessoas vão ficar extintas e se nem a Veja, nem a Globo publicarem ninguém vai ficar sabendo. O presidente pode morrer, ninguém vai sentir falta. Brasília pode sumir ninguém vai notar. A música pode acabar, ninguém nem vai sofrer por isso. O sangue que foi derramado lá atrás vem apodrecendo cada vez mais. Vem apodrecendo e ficando isolado. Os sonhos lá de trás doem em mim. Mas doe de verdade, eu não sonhei junto, mas eles também eram meus, de certa forma são os meus. E então doem. Na verdade é uma dor que não dói, mas aperta e quando aperta eu não tenho o que apertar, porque tudo o que eu tento apertar, desmancha. Eu não tenho sequer um “grito de guerra” Abaixo o que? Abaixo a falta de memória? Abaixo à guerra de poderes? Abaixo às vendas dos olhos? Abaixo à ditadura de narciso? Abaixo à ditadura da perfeição? Abaixo o silêncio? Abaixo à apatia? ABAIXO A PUTA QUE O PARIU VAMOS FAZER ALGO? Nem sei o que gritar, o que atingir, para quem lutar. Odeio a hipocrisia pós-moderna, a apatia pós-moderna, o individualismo pós-moderno. E odeio acima de tudo fazer parte e ser a parte de tudo isso.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Apenas isso

É incrível a capacidade de desistência antes da tentativa. O abafamento antes do grito. A resposta projetada antes da pergunta propriamente feita. Meus semelhantes são diferentes. Eu gosto de procurar vida em outro planeta porque eu já me sinto em outro dentro do meu. Eu gosto é de observar e ouvir. Falar exige sua cota. A minha esgota rápido. Às vezes a despejo em uma conversa só ou divido em pequenas frases durante o dia. Falar cansa. Os outros dois também, mas eu prefiro cansar de observar e ouvir, do que de falar. Ouvindo eu aprendo. Falando eu minto. Porque todo mundo mente, então eu entro no jogo. E pra ser sincera a verdade exige muitas explicações e as pessoas tapam os ouvidos na metade delas. Daí eu canso. Canso de repetir e ser censurada na metade. Foi quando eu resolvi mentir para elas e falar a verdade para mim. A verdade delas, porque as minhas elas quem escondem. Quando eu não aguento a pressão, eu falo sozinha e então alguém escuta e isso passa a não ser mais mentira, nem verdade omitida. Nessas madrugadas que eu não consigo dormir, quer dizer, todas essas madrugadas que eu não durmo, eu fico pensando que se eu pudesse te contar eu nem saberia o que dizer, porque a verdade nem sempre é dita e se é mostrada também não é vista. Mas se você me der a sua mão eu posso tentar. Eu posso tentar te levar lá e então você aproveita e me leva junto, quem sabe eu também possa ver alguma coisa. Eu queria ver. Queria ver tanta coisa e às vezes eu acho que ainda não tenho olhos suficientes para isso. É, talvez eu ainda não tenha olhos. Mas a gente pode tentar. Apenas isso já melhoraria a nossa visão.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Ele sai é de mim

Da minha janela não entra vento. Ele sai é de mim. Meus sentimentos estão nas entrelinhas, é preciso ler. Hoje eles não vão explodir sozinhos, é preciso provocar.
Eu rasgo as linhas à procura de algo mais. Ultrapasso os limites para espiar o que acontece do lado de lá. É, eu sempre preferi o lado de lá. É mais calmo, nada de muito trânsito. Um mundo paralelo tranquilo. Mas eu gosto do turbilhão, então fico entre lá e cá, vou e volto, cá e lá. É sempre assim. O céu de lá não tem cor. O mundo de lá não tem cor. Eu pinto como eu quiser. Aqui já colocaram umas cores caidinhas e eu tenho que me acostumar. A palavra “ter” não permite o “dar”. Há um forte antivírus entre ambas. Mas eu também nunca segui o permitir, portanto eu tenho e dou, peço e roubo, é um ciclo sem fim. É um ciclo que eu não sei como inicia muito menos onde encontro os botões de controle, então eu vou apertando todos até acertar. Acertar às vezes é um erro, um erro gravíssimo. Errar é comigo mesma. O Acertar eu divido com os outros. Quando eu erro, eu tento de novo. Quando acerto é uma vez só. Daí o controle foge das minhas mãos e passa a ser da memória. E ela muda o tempo inteiro, a gente não se entende. Eu faço o back-up e ela apaga. Eu digo esse não e lá vai ela. Os rostos se esfarelam, os acontecimentos se fragmentam, mas os erros ficam. Por isso eu erro mais e guardo mais. Acerto menos e ela não leva. Quem leva sou eu. Do meu violão não sai som. Ele sai é de mim, mas eu vou engolir e manter o silêncio.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

O dia

Hoje é o dia. Hoje é o dia em que eu visto minha fantasia de mulherzinha estereotipada pelo machismo moderno. Moderno, antigo, em transição...ou seja, a porra do machismo.
Nas ondas do silêncio eu grito a histeria. E eu quero correr, e eu quero gritar, e eu não sei o que eu quero, o que eu espero, nem o que eu preciso. Eu preciso de mais tempo. Não sei ao certo o quanto eu tenho, mas eu preciso de mais.
Ah, não me venha contar seu dia. Eu não quero saber do clima, da política, nem do mundo. Hoje eu sou o egoísmo triplicado do eu. Eu preciso falar de mim porque eu estou sentimental. Eu preciso falar só de mim e se você não quiser ouvir, tudo bem, eu falo comigo mesma. Existem milhares de espelhos pendurados pela casa e eles vão ter que me escutar, ah vão.
As pessoas tem medo da loucura. As pessoas são tão chatas, esquisitas e complicadas. Elas tem medo da loucura e ficam loucos por evitá-la. Eu não sou complicada. Na verdade eu sou sim, bastante. Mas não é de propósito. Eu sou assim porque não sei ser de outro jeito. Eu sou complicada porque não sei ser simples. Se soubesse o seria.
Existe uma guerra psicológica e a loucura causa mais terror do que o sangue, então eles vencem. O mundo está cego, e olha que eu nem enxergo para ver isso. Mas eu sinto que está cego. Eu estou vazia, você está cansado e a gente está morrendo e eu preciso de mais tempo e mais paciência e um par de olhos. Bons pares de olhos. Que veja sobre a cegueira do mundo, que não leia cifrões e não olhe para o espelho. Ah, se eu puder encomendar eu também quero uma dúzia de solidão. Não para mim, mas para eles, porque é impossível pensar em meio a tanto barulho.

Eu

Eu sou um tudo fingido e um nada claríssimo. Eu sinto uma atração irresistível pelo desconhecido. Por tudo aquilo que eu não sei fazer, que eu sei que não consigo. Nunca fui atraída pelo fácil, ele sempre me enjoa. Embalagens fáceis de abrir, perguntas fáceis de responder, homens fáceis de entender, isso tudo me leva ao tédio. E o tédio me leva a crise de hiperatividade o que faz as pessoas pensarem que eu sou louca, o que na verdade todo mundo é, mas ninguém tem a cara de pau para assumir. Eu tenho. Mas não assumo. Eu finjo muito bem a normalidade. Acho que eu sou um tipo de atriz frustrada e, aliás, a frustração leva o ser, a não ser o que realmente algum dia, em algum momento, quis ser. Eu apenas sou curiosa. Escuto as conversas dos outros e tenho vontade conversar com qualquer pessoa, qualquer pessoa que passe do meu lado eu quero conhecer. Mas eu fico quietinha, porque ainda falta uma ponte entre o meu querer e o ato realmente concretizado. Eu sou curiosa e faço o que não sei. Eu não sei escrever. Assim como eu não sei cantar, abrir as malditas maioneses de saquinho e jogar truco. Mas eu faço mesmo assim, porque como disse, eu gosto. Não, eu não li os clássicos, não ouvi os clássicos, muito menos assisti todos os clássicos, e claro isso não é algo do qual eu me orgulhe, mas também ainda não sinto a necessidade de suicídio. Eu só escrevo porque chega o tédio, juntamente com a crise de hiperatividade e para pular e fingir a parte da loucura eu tenho que colocar alguma coisa no meio. No meio da coisa, entende? E falando do sempre da coisa e da coisa de sempre, devo dizer que não preciso de muito. Resumidamente, eu preciso de açúcar, uma caneta e um papelzinho qualquer, um violão, uma vestimenta cafona e um vaso sanitário. Sim, um vaso sanitário. Para sentar e pensar nas merdas do mundo e poder depositar as minhas também. Ah, e com isso eu preciso de um pouquinho mais daqueles papeizinhos quaisquer. Além de todas as minhas necessidades eu tenho também a de sentir. A de sentir e compartilhar, preferivelmente com quem eu não conheço. Porque quem eu conheço não me conhece por inteiro, apenas 50% e como quem eu não conheço me conhece 0% e se eu compartilhar, passa a conhecer 50%, é mais do que justo. Porque assim ninguém passa perto dos 100% e eu não corro o risco de me contarem os 100% que sou. Daí tudo fica mais divertido. Assim como a vida, porque na verdade a vida é engraçada. Eu morro de rir sozinha. Nem todo mundo acha ela engraçada e como eu não tenho paciência para esperar todo mundo, então eu morro de rir sozinha.