sábado, 6 de fevereiro de 2010

Eu

Eu sou um tudo fingido e um nada claríssimo. Eu sinto uma atração irresistível pelo desconhecido. Por tudo aquilo que eu não sei fazer, que eu sei que não consigo. Nunca fui atraída pelo fácil, ele sempre me enjoa. Embalagens fáceis de abrir, perguntas fáceis de responder, homens fáceis de entender, isso tudo me leva ao tédio. E o tédio me leva a crise de hiperatividade o que faz as pessoas pensarem que eu sou louca, o que na verdade todo mundo é, mas ninguém tem a cara de pau para assumir. Eu tenho. Mas não assumo. Eu finjo muito bem a normalidade. Acho que eu sou um tipo de atriz frustrada e, aliás, a frustração leva o ser, a não ser o que realmente algum dia, em algum momento, quis ser. Eu apenas sou curiosa. Escuto as conversas dos outros e tenho vontade conversar com qualquer pessoa, qualquer pessoa que passe do meu lado eu quero conhecer. Mas eu fico quietinha, porque ainda falta uma ponte entre o meu querer e o ato realmente concretizado. Eu sou curiosa e faço o que não sei. Eu não sei escrever. Assim como eu não sei cantar, abrir as malditas maioneses de saquinho e jogar truco. Mas eu faço mesmo assim, porque como disse, eu gosto. Não, eu não li os clássicos, não ouvi os clássicos, muito menos assisti todos os clássicos, e claro isso não é algo do qual eu me orgulhe, mas também ainda não sinto a necessidade de suicídio. Eu só escrevo porque chega o tédio, juntamente com a crise de hiperatividade e para pular e fingir a parte da loucura eu tenho que colocar alguma coisa no meio. No meio da coisa, entende? E falando do sempre da coisa e da coisa de sempre, devo dizer que não preciso de muito. Resumidamente, eu preciso de açúcar, uma caneta e um papelzinho qualquer, um violão, uma vestimenta cafona e um vaso sanitário. Sim, um vaso sanitário. Para sentar e pensar nas merdas do mundo e poder depositar as minhas também. Ah, e com isso eu preciso de um pouquinho mais daqueles papeizinhos quaisquer. Além de todas as minhas necessidades eu tenho também a de sentir. A de sentir e compartilhar, preferivelmente com quem eu não conheço. Porque quem eu conheço não me conhece por inteiro, apenas 50% e como quem eu não conheço me conhece 0% e se eu compartilhar, passa a conhecer 50%, é mais do que justo. Porque assim ninguém passa perto dos 100% e eu não corro o risco de me contarem os 100% que sou. Daí tudo fica mais divertido. Assim como a vida, porque na verdade a vida é engraçada. Eu morro de rir sozinha. Nem todo mundo acha ela engraçada e como eu não tenho paciência para esperar todo mundo, então eu morro de rir sozinha.

4 comentários:

  1. ou seja, vc nunca será atraída por nada... pq vc é curiosa o bastante para ir atras do desconhecido, e quando consegue chegar nele, ele inevitavelmente vira conhecido.. sendo assim se tornando algo fácil na maioria das vezes... mas nem tudo é tão claro quanto parece, dai vem a parte da porcentagem que vc falo, dai quando todo o desconhecido fica "conhecido", vc descobre outro desconhecido e vai atrás... e assim vai indo, fugindo e persiguindo o nada.

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  2. isso. na verdade eu sou atraída por tudo e nada ao mesmo o tempo, é o que me faz ir e vir. Quando o conhecido fica conhecido e tediante demais é preciso desconhecer para conhecer novamente. A minha sorte é que não conheço quase nada, portanto tenho a vida inteira para ir e vir sem que minhas fontes se esgotem. :D

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  3. Essa é minha irmã, escreve muitooooo....
    Tenho muito orgulho dela, a cada dia me surpreendendo mais...
    AMO VC MANINHA...

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  4. "[...] um vaso sanitário. Sim, um vaso sanitário. Para sentar e pensar nas merdas do mundo e poder depositar as minhas também."

    Muito bom isso!

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