terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Fazer parte e ser a parte

Eu não sou o que eu sinto. Apenas sinto fragmentos e impactos do que sou. Odeio a hipocrisia pós-moderna do fingir ser preocupado sendo um bosta. Ou você é ou não é. Se importa ou sai cagando e andando. O serei fica longe demais para ser afirmado em tempos em que mal conseguimos dizer sou. Ou você fica puta em ser tratada como inferior por ser mulher, burra por ser mecânica, lésbica por ser jogadora, fútil por ser estilista ou você acha normal um homem pagar suas contas em troca de um conforto qualquer. Não tem como ser os dois. É como ser vegetariana e comer hambúrguer. É como considerar o mundo inteiro como irmão e achar que um mendigo é bastardo. Quente ou frio, forte ou descafeinado, seja algo. A apatia me da ânsia. Sardinha também, mas a apatia não faz digestão ela entra e entala na garganta. Impede o grito. Cega o mundo. Hoje as coisas só incomodam quando estão próximas demais. Nada é nítido à distância, nada parece real. A pobreza só existe quando chega até você. O mundo é uma barbárie quando te tiram algo que vai faltar. Daí surgem as passeatas, a indignação, o sofrimento de uma família coberto pela Globo. Mas logo depois vem o esquecimento, e volta a indignação, e depois o esquecimento e a indignação, e a queda da bolsa de valores e o esquecimento, e a inflação, e o esquecimento, e a reeleição e o esquecimento, aaaaah, daí vêm a ânsia. E não há nada que ninguém possa dizer, porque ninguém mais escuta. Nada penetra a maldita bolha. Às vezes eu tenho vontade de sair furando todas como uma louca igual aquelas tias encalhadas que furam as bexigas com o palitinho de dente em festas de criança tentando representar toda a sua carência com o barulho do estouro. É o que dá vontade fazer. Porque como ninguém mais escuta, então não teria problema se todo mundo ficasse surdo de vez. Até onde vai tudo isso? As pessoas vão ficar extintas e se nem a Veja, nem a Globo publicarem ninguém vai ficar sabendo. O presidente pode morrer, ninguém vai sentir falta. Brasília pode sumir ninguém vai notar. A música pode acabar, ninguém nem vai sofrer por isso. O sangue que foi derramado lá atrás vem apodrecendo cada vez mais. Vem apodrecendo e ficando isolado. Os sonhos lá de trás doem em mim. Mas doe de verdade, eu não sonhei junto, mas eles também eram meus, de certa forma são os meus. E então doem. Na verdade é uma dor que não dói, mas aperta e quando aperta eu não tenho o que apertar, porque tudo o que eu tento apertar, desmancha. Eu não tenho sequer um “grito de guerra” Abaixo o que? Abaixo a falta de memória? Abaixo à guerra de poderes? Abaixo às vendas dos olhos? Abaixo à ditadura de narciso? Abaixo à ditadura da perfeição? Abaixo o silêncio? Abaixo à apatia? ABAIXO A PUTA QUE O PARIU VAMOS FAZER ALGO? Nem sei o que gritar, o que atingir, para quem lutar. Odeio a hipocrisia pós-moderna, a apatia pós-moderna, o individualismo pós-moderno. E odeio acima de tudo fazer parte e ser a parte de tudo isso.

2 comentários:

  1. Fazer parte, faz parte.
    Façamos direito a nossa parte, para ser a parte menos partida de uma parte que nunca foi inteira.
    Abaixo a puta que o pariu e façamos algo que levante a moral, que reinvente a ideologia, que reviva os princípios, que demonstre o respeito e que faça prevalecer nossa memória. Façamos história.
    Sejamos a melhor parte do nosso ser, a pura essência, aí sim deixaremos de apenas fazer parte, faremos arte, e passaremos a ser a parte importante, para ser ouvida, entendida e vivida. Por mais que os ninguéns não vejam, lembrem ou entendam. Fizemos a nossa parte. :P

    Tá representando muito bem na redação Mari... Botei fé, fiquei de cara, autos textos, autas idéias, parabéns! :D
    É um prazer ter a oportunidade de te conhecer, espero que possamos compartilhar essa ilha ao máximo.
    Sinta-se em casa e seja muito bem-vinda (essas palavras vindo de uma nativa pesa ainda mais, hein! hahahaha).

    Bjs Bjs bjssss *.*

    =****

    (Lisiê)

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  2. Opa, pode deixar, farei parte dessa parte incompleta. rsrs

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